(Fernando Pessoa. 'Mensagem', in Obra Poética. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 1983)
A Europa e a Península Ibérica
A
Europa jaz, posta nos cotovelos:
De
Oriente a Ocidente jaz, fitando,E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O
cotovelo esquerdo é recuado:
O
direito é um ângulo disposto.
Aquele
diz Itália onde é pousado;Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apóia o rosto.
O
rosto com que fita é Portugal.
Fernando
Pessoa é um poeta moderno que nos fala de uma Europa histórica e metafórica,
isto é, fala de como uma espécie de
esfinge deitada, "jaz", que possui olhos, cabelos, cotovelos, mãos e
rosto. A esfinge, segundo a mitologia grega, era um monstro, espécie de leão
alado, com cabeça e tronco humanos, sempre deitada sobre os cotovelos; guardava
enigmas terríveis que propunha aos passantes, a quem matava quando não sabia
decifrá-los.
Se
observarmos com atenção o mapa da Europa, veremos que essa esfinge metafórica
realmente se estende de "Oriente a Ocidente" e que, com um pouco de imaginação, é possível perceber
até os "cotovelos" em que ela se apoia . mas se trata de linguagem conotativa,
que remete a outros significados. Assim na visão de Pessoa, a Europa do
presente não é mais a do passado, cheia de cultura e glórias a civilização
grega por exemplo), como indicam os "olhos gregos", Lembrando a
própria figura da esfinge.
Essa
saudade de um passado cheio de grandes feitos também se estende à Península
Ibérica, a cabeça da esfinge que avança mar adentro: " O rosto com que
fita é Portugal". E o que fita Portugal,
com o misterioso e fatal olhar de
esfinge? O Ocidente (América), que no passado, era o seu futuro; o futuro das
grandes navegações e descobertas, época de ouro e glórias que nunca mais
voltou. É disso que tem saudade o poeta, é disso que tem saudade Portugal.
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