sexta-feira, 17 de junho de 2011

Memorial de Aires – Machado de Assis




Por Edina Felizardo

Alguns críticos dizem que Memorial de Aires é um livro sem ação, sem rancor, que suaviza todas as coisas, ou ainda, que seria a reconciliação de Machado com sua existência, o que torna a obra inferior as outras obras do autor. Alguns dizem até que ele fez as pazes com a vida, mas continua arredio com o mundo, sendo Memorial de Aires um Romance biográfico.
Analisando os acontecimentos percebe-se que este é um livro cheio de pontas soltas no qual se destaca a característica mais forte de Assis que é tentar enganar o leitor. Será que tem algum acontecimento esquisito nesta obra? A resposta deste mistério pode estar na epígrafe. “Para veer meu amigo que talhou preyto comigo, Alá vou, madre. Para mig’a preyto talhado, Alá vou madre.” – Cantiga D’el-Rei Dom Denis –
Segundo Gledson crítico literário existem duas propostas de leituras do Memorial, uma é a oficial e a outra é a que o autor do texto propõe. Machado coloca questões que ele não resolve, deixando o leitor sempre com dúvidas o que torna possível mais um tipo de leitura encontrando justificativas para elas.
A narrativa feita em primeira pessoa em forma de diário faz com que o leitor tenha uma visão fragmentada, limitada e parcial, o que prejudica a visão total da obra fazendo de Aires um narrador duvidoso. Devido à forma que se dá construção da narrativa ela não convence, mas por ser um diário a impressão que temos é que o Memorial é verossímil.
A obra começa em 1888, ano da Abolição da Escravatura, terminando em 1889, ano da Proclamação da República. O tráfico de escravos no Brasil estava proibido desde 1850, sabendo se que seria inevitável a libertação dos escravos livrarem-se deles antes disso seria o ideal. Assim fez o Barão de Santa Pia, pai de Fidélia que morre logo em seguida.
Com a decadência da lavoura e sem força para administrar a fazenda Fidélia decide vendê-la, no entanto ela muda de ideia a pedido de Tristão, decide doá-la para os escravos. Cabe ao leitor refletir sobre o verdadeiro motivo da doação. Generosidade ou falsa bondade de Fidélia que desejava apenas se livrar dos escravos, ou ainda não queria manchar seu casamento com Tristão não deixando possibilidades de dúvidas sobre qualquer interesse.
Gledson elimina a leitura que Aires faz e faz a sua própria leitura, uma leitura alternativa.
Cabe a cada leitor fazer sua própria leitura.

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